segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Para entender O QuinzeRaquel de Queiroz
Um convite à leitura: elementos narrativos e contextualização

Uma história que merece ser lida, vidas que merecem ser mais valorizadas...É o que remete "O Quinze" que apesar de retratar a seca de 1915, é um livro mais atual do que nunca.
O retrato da vida das pessoas que sofrem essa dura realidade pode ser tirado da obra. A riqueza de seus elementos narrativos é a descrição perfeita para aqueles que tratam a seca como um fenômeno político, sem se preocupar com os seres humanos, principais personagens dessa discussão.
Mas, é também, romance. Aliás, é romance em sua essência. A própria autora, Rachel de Queiroz, é quem diz que, inserir política no contexto da literatura é prostituição.
O fato é que não se pode negar o aspecto social presente nas obras da escritora e, principalmente, nesta. Fato esse, que é característico do estilo literário de seus contemporâneos e amigos.
Sobre a fotografia marcante de um povo que pode ser lida n"O Quinze", nenhum partido político é tomado. Mas a visão do contexto social da seca, com certeza se torna, "criticamente", mais humana.

O crítico Augusto Frederico Schimidt assim definiu a obra de Rachel de Queiroz:
“Livro verdadeiramente brasileiro, livro coerente e claro, livro que consegue manter a forma no mesmo diapasão com o assunto, na mesma simplicidade que os liga admiravelmente. Não há nenhum sentimentalismo na escrita do O Quinze. Constata ele apenas a realidade, sem procurar concluir coisa alguma.”
Enredo:
O livro conta histórias que, sem sombra de dúvida, são reflexos da realidade e fazem parte do cotidiano dos nordestinos que tentam resistir à seca, cada vez mais cruel. Os cenários são narrados com a precisão de alguém que viveu essa realidade, o que deixa os leitores ainda mais maravilhados e, ao mesmo tempo, perplexos com o caráter não fictício do contexto social da obra.
Foco Narrativo
A narração, feita em 3ª pessoa, dá ao livro uma postura imparcial. O narrador não interfere sentimentalmente na descrição dos cenários e dos dramas vividos pelos personagens, o que reforça a postura de constatação da "pura realidade" falada pelo crítico Augusto Schimidt.
Personagens:
Os nomes típicos da época e da região dados aos personagens (Cordulina; Dona Idalina: Chico Bento; Conceição) são mais um indicador da realidade descrita na obra. E os paradigmas pelos quais passam, vão aos poucos delineando a personalidade de todo o povo nordestino, sendo cada personagem um representante do jeito de ser desse povo.
Linguagem:
A linguagem é muito simples, devido às condições do local onde a história se passa o que dá um toque de veracidade muito maior para o livro, que é escrito como se fosse um "diário".
Os diálogos, que dão a esse "diário" um ar de conto, estão escritos em um português coloquial, outra característica que comprova o caráter realístico da obra.
Conclusões e Notas:
A análise dos elementos acima nos permite concluir a "pura realidade" que a obra, no nosso entendimento, se dedica a descrever e sobre a qual o crítico Augusto Schimidt falou tão bem.
O aspecto social presente no livro é extremamente importante para um país tão grande, tão diverso, que tão pouco se conhece.
À Rachel de Queiroz, nos resta pedir desculpas e lamentar as distorções que, por acaso, foram feitas por nós ao refletir sobre este clássico da literatura brasileira que, de alguma forma, nos sensibilizou.
Há quem goste, há quem não goste da obra, mas não se pode negar sua importância ao retratar mais uma faceta deste país tão cheio de diferenças.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A MULHER NEGRA

RETRATOS DE MULHER - A MULHER NEGRA NAS REVISTAS PARA O PÚBLICO

NEGRO - ESTUDO DE CASO

Edna de Mello Silva

Introdução

Cerca de quarenta e quatro por cento da população brasileira é formada por negros e mestiços e mesmo tendo grande influência na cultura nacional, sua participação social, econômica e política ainda é menor do que a de outras etnias.
A grande maioria dos negros brasileiros possui baixa renda e enfrenta o preconceito no mercado de trabalho, convive com a perseguição policial, é explorada com baixos salários e faz parte do acervo de ?piadas? em qualquer círculo social. É uma herança cultural que a Lei Áurea de l888 não conseguiu abolir da sociedade brasileira, motivo de muita polêmica, visto que nossa sociedade não admite ser racista.
O conflito racial no Brasil não é aberto como em outros países, o que impede que
muitos negros se identifiquem com sua própria negritude e lutem por seus direitos através de uma ação política eficaz e consciente.
A conscientização da negritude brasileira está se materializando à medida que os
negros conquistam maior poder aquisitivo, representando um nicho de consumidores importantes ao sistema capitalista, ao mesmo tempo em que disputam espaços sociais anteriormente pertencentes exclusivamente aos brancos.
Os negros estão aumentando sua participação nas Universidades, nas profissões
liberais, na diretoria de grandes empresas, nos partidos políticos, no comércio e na indústria. Gradativamente, está se formando um novo negro brasileiro, um que possui nível superior de escolaridade, carro importado, casa própria em condomínio fechado e todos os bens de consumo oferecidos pela sociedade moderna. O número desses eleitos ainda é pequeno. Mas já começa a incomodar a classe média branca acostumada a manter os negros confinados em
áreas domésticas, utilizando elevadores de serviço e mantendo uma atitude servil e submissa.
A imprensa sempre desempenhou um papel importante para o negro brasileiro.
Embora, os grandes veículos tenham ajudado a cultivar o ?apartheid? brasileiro dando mais espaço ao negro criminoso e marginalizado e não identificando como negro, seus representantes intelectuais e culturais, houve algumas iniciativas, com destaque para A voz da Raça, em 1933, que ajudaram a despertar a consciência da negritude, denunciar o racismo e divulgar a cultura negra, longe dos ranços e interesses dos brancos. Aos poucos essas vozes se calaram por motivos políticos ou econômicos.
Atualmente, no mercado paulista de revistas de varejo existem quatro títulos
voltados para a etnia negra. A pioneira Raça Brasil, surgida em 1996, a Agito Geral de l997, a Negro 100 Cento, em 1998,e voltada para produtos e serviços, a Visual Cabelos Crespos, de 1997. Não existem jornais impressos comprometidos com a etnia negra. A Revista da Folha, um suplemento do jornal ?Folha de S. Paulo?, possui uma coluna que sai ao domingos dedicada aos negros.
Essas revistas falam de moda, comportamento e consumo voltado para o mercado
étnico negro e também despertam a consciência da negritude em artigos que tratam de preconceito, discriminação racial e alertam sobre os direitos dos negros.
As mulheres negras estão despertando o interesse da mídia, da cosmética e do
mercado editorial, mas como será que elas são retratadas nas matérias de revistas para etnia negra? Quem são as mulheres negras que merecem destaque nessas revistas? Analisar as matérias que falam da mulher negra e como essas publicações discutem os problemas das mulheres é o objetivo dessa pesquisa .

II - O negro na imprensa paulista

Apesar de ter importante participação no processo de abolição da escravatura
brasileira, a imprensa do início do século defendia mais os interesses capitalistas dos barões de café, do que os da população negra, em sua maioria formada por analfabetos ou mestiços sem projeção social.
Os negros paulistas sentem a necessidade de refletir sobre sua vida social e cultural, denunciar o racismo impregnado na sociedade e desenvolver sua identidade étnica e como não encontravam espaço na imprensa branca fundam em 1915, o Menelick, um jornal que analisava o comportamento e a ideologia do negro urbano.
Essa iniciativa teve seguimento nos anos seguintes com o surgimento de inúmeras
publicações que influenciaram fortemente a formação e o comportamento dos negros paulistas daquela época. Foram elas:
1916 - A rua e O Xauter
1918 - O Alfinete
1919 - O Bandeirante
1919 - A Liberdade
1920 - A Sentinela
1922 - O Kosmos
1923 - O Getulino
1924 - O Clarim da Alvorada e Elite
1928 - Auriverde, O Patrocínio e o Progresso
1932 - Chibata
1933 - A Evolução e A Voz da Raça
1935 - O Clarim, O Estímulo, A Raça e Tribuna Negra
1936 - A Alvorada
1946 - Senzala
1950 - Mundo Novo
1954 - o Novo Horizonte
1957 - Notícias de Ébano
1958 - O Mutirão
1960 - Hífen e Niger
1961 - Nosso Jornal
1963 - Correio d? Ébano

Esses jornais eram mantidos pelos próprios editores e sobreviviam através da
cotização da comunidade que os ajudavam a manter a divulgação de seus ideais, a discussão dos problemas específicos do grupo e dar espaço às produções intelectuais de negros paulistas.
Apesar de possuírem um forte comprometimento com a comunidade, esses jornais
não divulgavam os grandes acontecimentos nacionais. ?Nada sabemos pela sua leitura, da Coluna Prestes, da Revolução de 1930, do movimento de 1932 em S. Paulo, da revolta comunista de 1935 e de outros acontecimentos relevantes nesse período. Há mesmo, uma certa cautela tática, pois neles também não se encontravam notícias ou comentários sobre o movimento sindical, as lutas operárias, greves e participação dos negros nesses eventos.
Também não se encontram críticas ao governo. É uma imprensa altamente setorizada nas suas informações e dirigidas a um público específico.? 1
Em 1938, Getúlio Vargas decreta a censura a todos os órgãos de imprensa e até
mesmo o A Voz da Raça não consegue imprimir uma linha sequer sobre o cinqüentenário da abolição, sendo fechado em seguida.
O golpe militar de 1964 fecha o diálogo democrático e cala a última tentativa de dar voz ao manifesto negro; o Correio d? Ébano. A imprensa negra só volta a ser retomada em 1978, com o Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial, que mais tarde deu origem a vários grupos de defesa de direitos dos negros e de desenvolvimento da consciência negra, todos com veículos de comunicação próprios e comprometidos com acausa.


1 - Moura, Clóvis. História do negro brasileiro. São Paulo, Ática, 1989. Pág. 71.



II - Revistas nacionais voltadas para a etnia negra

Atualmente, à venda nas bancas de jornais de S. Paulo existem quatro títulos de
revistas dirigidas aos negros brasileiros: a Raça Brasil, Visual Cabelos Crespos, Agito Geral e Negro Cem Por Cento.
1. Raça Brasil - Editora Símbolo
A Raça Brasil surgiu no mercado em 02 de setembro de l996, com a proposta de
resgatar a auto-estima dos negros, através de matérias que falam de moda, comportamento,
produtos e serviços e entrevistas com representantes da raça negra com destaque na sociedade. É a primeira revista brasileira do gênero, tendo grande aceitação por parte do público negro e da mídia em geral.
Pelas características de suas matérias pode ser considerada uma revista feminina,
porém voltada especialmente para a estética da mulher negra, valorizando o corpo, o tom da pele e cabelos, através de dicas de cuidados especiais e sugestões de produtos que a tornem mais bela.

2. Visual Cabelos Crespos - Editora Símbolo

Pode-se dizer que é um ?subproduto? da Revista Raça Brasil. Nascida em setembro
de 1997, essa revista destaca somente a cosmética voltada para a etnia negra, trazendo produtos, serviços e artigos para o consumo especialmente dirigido à mulher negra.

3. Agito Geral - Editora Dipreto

É uma revista que fala de música, destacando os vários ritmos onde a raça negra se destaca, através de matérias assinadas e opinativas sobre diversos gêneros musicais como Hip Hop, Reggae, Samba, entre outros, além de dar espaço para os ídolos musicais negros.
Sua primeira edição chegou às bancas em dezembro de 97 e o mais recente saiu em abril de1998. (em maio e junho a revista não foi editada, apesar da periodicidade ser mensal.) 4- Negro 100 Por Cento - Editora Escala
O número 1 da Revista chegou às bancas de São Paulo em maio de 1998. Em seu
editorial fala que dará destaque ao ?negro em expansão ocupando o seu território nessa grande metrópole chamada Universo?.
A revista enfoca os ídolos da música negra, do esporte e especialmente do samba, e traz alguns ensaios fotográficos com mulheres negras nuas.

IV- Análise dos textos que retratam a mulher negra

1. Revista Raça Brasil - Ano 3 - no. 21 -pág. 42

Matéria: Ela é demais
O objetivo da matéria é desvendar os segredos de beleza da modelo Valéria
Valenssa, conhecida por protagonizar as vinhetas de Carnaval, da emissora de televisão Rede Globo. Veja abaixo como ela é apresentada no texto:
?Ela é perfeita: 82 cm de busto, 60 cm de cintura e 90 cm de quadris. Mais do que
medidas de miss, a Globeleza Valéria Valenssa tem um corpo prá lá de escultural. Sua plástica irretocável faz dela um mulherão. De fato, suas belas formas estão muito bem distribuídas em 1,70m de altura e 50 quilos. Graças a esse talento e à sua performance com o samba no pé, Valéria tornou-se símbolo do Carnaval e sinônimo de beleza. Mas como será que essa beldade, que ainda acumula o título de mulher do designer gráfico Hans Donner, se cuida no dia-a-dia??

a) Adjetivos
perfeita, corpo escultural, plástica irretocável, mulherão, belas formas, beldade
b) advérbios de intensidade mais do que, prá lá de, muito bem, ainda acumula
c) Frases com conotação sexista
· ?Ela é perfeita: 82 cm de busto, 60 cm de quadris...?
- indica que sua perfeição está estritamente ligada às medidas do corpo, sem
considerar outros aspectos como personalidade, formação, etc.
n ?Mais do que medidas de miss, a Globeleza Valéria Valenssa tem um corpo prá lá de escultural.?
-valorização do corpo
n ?De fato, suas belas formas estão muito bem distribuídas em 1,70 de altura e 50 kg.
Graças a esse talento e a sua performance com o samba no pé?, Valéria tornou-se
símbolo do Carnaval e sinônimo de beleza.
- trata como se fosse ?talentoso fato da modelo possuir ?belas formas?.
n ?... ainda acumula o título de mulher do designer gráfico Hans Donner...?
- trata como se fosse um título o casamento com um parceiro branco e estrangeiro
conhecido por trabalhar para a maior emissora de TV do Brasil.

2- Revista Raça Brasil - Ano 3 - no. 22 - pág. 36

Matéria: Ruth de Souza, a grande dama da dramaturgia nacional
A proposta da matéria é traçar um perfil da atriz Ruth de Souza, oferecendo dados
sobre sua trajetória na carreira e seus pensamentos. O texto traz vários depoimentos de Ruth, abaixo destaco os adjetivos usados para conceituá-la:
?Irrequieta e ousada, Ruth de Souza, com cinco anos de carreira, fez as malas e viajou para os Estados Unidos para estudar teatro.?
?Elegante, altiva, discreta e vaidosa, a atriz despista quando pergunta-se sobre sua idade - que beira os 70 anos - mas fala com desenvoltura das convicções que tem sobre racismo e a luta dos artistas negros.?
?Exigente e com aguçado senso profissional, Ruth de Souza critica ?o deslumbramento? da nova geração de atrizes e atores negros.?
Nota-se que os adjetivos utilizados: irrequieta, ousada, elegante, ativa, discreta, vaidosa, exigente , retratam uma mulher independente e muito segura do que quer.

3- Revista Raça Brasil - Ano 3 - no. 19

Matéria: Quando ela ganha mais
A reportagem traz os depoimentos de mulheres negras que trabalham fora e de suas dificuldades no relacionamento com seus maridos. São entrevistadas uma psicóloga de 39 anos, uma pedagoga de 47 anos, uma advogada de 41 anos, e uma revendedora de jóias de 43 anos que falam se seus sucessos e problemas pessoais e no final da matéria, entre um box com o título ?De a volta por cima?. O boxe traz soluções para se lidar com alguns
problemas de relacionamento conjugal. Veja alguns trechos abaixo: ?Eu sou melhor! O clima de rivalidade está reinando em casa? Pare um pouco e pense se
não foi você quem começou tudo. Por ganhar mais, muitas mulheres se julgam superiores e competem o tempo todo. Outra possibilidade é ele estar desencadeando esse clima desagradável para se auto-afirmar. A saída, mais uma vez, é conversar e torcer para que essa fase passe rápido?.
?Acomodação - Diante do sucesso da mulher, muitos homens se retraem. Se a situação não for resolvida a tempo, esse quadro pode se perpetuar e o casal perde muito com isso.
Mostre-se receptiva, ouça o que ele tem a dizer e incentive-o a batalhar pelo que quer, assim como você fez e conseguiu.?Nota-se que apesar da pauta ser falar de mulheres independentes financeiramente há uma mensagem implícita no texto: mulheres, salvem seus casamentos, sejam compreensivas com seus maridos, espere essa fase passar , etc. A mulher deve conquistar seu espaço lá fora e manter seu casamento, sem discutir muito seu papel na relação conjugal,
o que ela espera do casamento e outras atitudes de conscientização pessoal.

4- Revista Negro 100 Por Cento - Ano 1 - No. 1 - Pág. 35

Matéria: A Beleza da mulata brasileira está no ar

A capa da revista destaca a manchete ?Globeleza iluminou o Sambódromo?ao lado
de uma foto da modelo Valéria Valenssa. O indíce da revista mostra: Globeleza a beleza da mulata brasileira - pág. 36. E no entanto, a matéria apresentada apesar de falar da carreira de Valéria, é feita a partir de um depoimento de seu marido, Hans Donner. O texto não traz nenhum depoimento da modelo, apesar de mostrar a trajetória de sua carreira. Veja como a matéria é aberta:
?Valéria Valenssa, 26 anos, modelo, passista e agora cantora, solta sua voz em seu
primeiro CD que será lançado para a Copa da França 98. Beleza e sensualidade é o que não faltam na nossa ?mulata Globeleza. Em entrevista com seu ?criador?, o artista gráfico Hans Donner, ele nos conta como tudo aconteceu:...?
A matéria além de não trazer sequer um depoimento da modelo, ainda sugere que Valéria foi uma ?criação? de seu marido, dando a ele o mérito do sucesso da modelo.

V- Conclusão

As matérias analisadas apesar de trazerem o enfoque de retratar os símbolos de
beleza negra através de mulheres conhecidas na mídia brasileira carregam consigo um forte preconceito sexista, bastante evidente nas pautas que falam de Valéria Valenssa, mas, por outro lado, também valorizam mulheres independentes como Ruth de Souza, Maria Ceiça e outras atrizes negras.
As mulheres destacadas nas revistas voltadas para os negros são as artistas da
televisão, atrizes, cantoras e modelos. Profissionais liberais como advogadas, psicólogas têm algum espaço como entrevistadas que fornecem depoimentos sobre temas ligados à família, ao trabalho e comportamento. Nos textos analisados há uma forte defesa do casamento, enquanto união conjugal, sem se discutir o papel da mulher e do homem dentro da relação.
Na tentativa de criar modelos de comportamento, paradigmas do ?ser negro? essas
revistas para a etnia negra se confundem com as outras revistas femininas, que trazem ?receitas prontas? de como solucionar seus problemas, seja qual ele for, cabelos, relacionamentos conjugais, cuidados com a pele, para tudo há uma solução ao alcance da leitora. A Revista Raça traz muitas matérias desse gênero: ?Aprenda a ficar linda por dentro e por fora?; ?As soluções para ficar com a pele perfeita?; ?Saiba como manter a pele macia e suave no inverno?.
É interesse ressaltar que acompanhei a edição dessas revistas de fevereiro a junho
de 1998 e não encontrei nenhuma matéria que falasse efetivamente da lutas das mulheres negras, seus objetivos ou algo ligado à ideologia. A edição da no. 19, de março de l998, da Revista Raça fala do primeiro flagrante de racismo no Rio de Janeiro, mas não se aprofunda na discussão do assunto, apenas relata o fato. Essa Revista também mantém uma seção fixa chamada ?Negros em movimento? onde aparecem órgãos ligados à defesa do direito dos negros e o desenvolvimento da cidadania e consciência da negritude que em cada edição destaca um movimento diferente. As demais revistas não lidam com esse assunto.
A revista Agito Geral é a única que não traz matérias de comportamento e moda,
nem relato de mulheres. O destaque de seus entrevistados são homens cantores e negros, por essa característica provavelmente é uma revista dirigida ao público masculino. Não consegui entrar em contato com os editores, pois o número de telefone que aparece no expediente da revista não existe.
Das quatro revistas analisadas a que possui melhor qualidade editorial e matérias
melhor trabalhadas é a Raça Brasil, que atualmente é a campeã de vendagem dentre as revistas do gênero, no Estado de São Paulo, segundo o gerente de marketing da Distribuidora Fernando Chinaglia, André Santos.

BIBLIOGRAFIA

FERNANDES, Florestan. O significado do protesto negro. São Paulo, Cortez, 1989.
LIMA, Solange Martins Couceiro de. O negro na televisão de São Paulo: um estudo das relações raciais. São Paulo, FFLCH-USP, 1983.
MOURA, Clóvis. História do negro brasileiro. São Paulo, Ática, 1989.
ORLANDI, Eni Pulcinelli. A linguagem e seu funcionamento. As formas do discurso.
Campinas, Pontes, 1987.
SOUZA, Neusa Santos. Tornar-se negro. São Paulo, Editora Graal, 1983.
VALENTE, Ana Lúcia E.F. Ser negro no Brasil hoje. São Paulo, Moderna, 1987.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Discurso A futura Presidenta do Brasil Dilma Vana Rousseuf

Discurso da futura Presidenta do Brasil Dilma Vana Rousseuff

A pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, se encontrou com sindicalistas em São Bernardo hoje.

Leia abaixo a íntegra do discurso de Dilma em São Bernardo:

Companheiros e Companheiras do ABC.
Estou aqui hoje e quero aproveitar este momento para me identificar com maior clareza. Os da oposição precisam dizer quem são. Vocês sabem quem eu sou, e vão saber ainda mais. O que eu fiz, o que planejo fazer e, uma coisa muito importante, o que eu não faço de jeito nenhum. Por isso gostaria de dizer que:
1 Eu não fujo quando a situação fica difícil. Eu não tenho medo da luta. Posso apanhar, sofrer, ser maltratada, mas estou sempre firme com minhas convicções. Em cada época da minha vida, fiz o que fiz por acreditar no que fazia. Só segui o que a minha alma e o meu coração mandavam. Nunca me submeti. Nunca abandonei o barco.
2 Eu não sou de esmorecer. Vocês não me verão entregando os pontos, desistindo, jogando a toalha. Vou lutar até o fim por aquilo em que acredito. Estarei velhinha, ao lado dos meus netos, mas lutando sempre pelos meus princípios. Por um País desenvolvido com oportunidades para todos, com renda e mobilidade social, soberano e democrático;
3 Eu não apelo. Vocês não verão Dilma Rousseff usando métodos desonestos e eticamente condenáveis para ganhar ou vencer. Não me verão usando mercenários para caluniar e difamar adversários. Não me verão fazendo ou permitindo que meus seguidores cometam ataques pessoais a ninguém. Minhas críticas serão duras, mas serão políticas e civilizadas. Mesmo que eu seja alvo de ataques difamantes.
4 Eu não traio o povo brasileiro. Tudo o que eu fiz em política sempre foi em defesa do povo brasileiro. Eu nunca traí os interesses e os direitos do povo. E nunca trairei. Vocês não me verão por aí pedindo que esqueçam o que afirmei ou escrevi. O povo brasleiro é a minha bússola. A eles dedico meu maior esforço. É por eles que qualquer sacrifício vale a pena.
5 Eu não entrego o meu país. Tenham certeza de que nunca, jamais me verão tomando decisões ou assumindo posições que signifiquem a entrega das riquezas nacionais a quem quer que seja. Não vou destruir o estado, diminuindo seu papel a ponto de tornar-se omisso e inexistente. Não permitirei, se tiver forças para isto, que o patrimônio nacional, representado por suas riquezas naturais e suas empresas públicas, seja dilapidado e partido em pedaços. O estado deve estar a serviço do interesse nacional e da emancipação do povo brasileiro.
6 Eu respeito os movimenos sociais. Esteja onde estiver, respeitarei sempre os movimentos sociais, o movimento sindical, as organizações independentes do povo. Farei isso porque entendo que os movimentos sociais são a base de uma sociedade verdadeiramente democrática. Defendo com unhas e dentes a democracia representativa e vejo nela uma das mais importantes conquistas da humanidade. Tendo passado tudo o que passei justamente pela falta de liberdade e por estar lutando pela liberdade, valorizo e defenderei a democracia. Defendo também que democracia é voto, é opinião. Mas democracia é também conquista de direitos e oportunidades. É participação, é distribuição de renda, é divisão de poder. A democracia que desrespeita os movimentos sociais fica comprometida e precisa mudar para não definhar. O que estamos fazendo no governo Lula e continuaremos fazendo é garantir que todos sejam ouvidos. Democrata que se preza não agride os movimentos sociais. Não trata grevistas como caso de polícia. Não bate em manifestantes que estejam lutando pacificamente pelos seus interesses legítimos.
Companheiras e companheiros,
Aquele país triste, da estagnação e do desemprego, ficou pra trás. O povo brasileiro não quer esse passado de volta.
Acabou o tempo dos exterminadores de emprego, dos exterminadores de futuro. O tempo agora é dos criadores de emprego, dos criadores de futuro.
Porque, hoje, o Brasil é um país que sabe o quer, sabe aonde quer chegar e conhece o caminho. É o caminho que Lula nos mostrou e por ele vamos prosseguir. Avançando. Com a força do povo e a graça de Deus.


Leitura para odia 08/11/2010


Leitura e Produção de Texto

Leitura Obrigatória para a aula do dia 08/11/2010

Prof. Sebastião Miguel

Discurso de Serra derrotado na disputa à presidência da República

Eu disputei com muito orgulho a Presidência da República. Quis o povo que não fosse agora. Mas digo, aqui, de coração, que sou muito grato aos 43,6 milhões de brasileiros e brasileiras que votaram em mim. Sou muito grato a todos e a todas que colocaram um adesivo, uma camiseta que carregaram uma bandeira com Serra 45.
Quero agradecer também aos milhões de militantes que lutaram nas ruas e na internet por um Brasil soberano, democrático e que seja propriedade do seu povo.
Eu recebi tanta energia nessa campanha, foram sete meses de muita energia, de muita movimentação e de muito equilíbrio também, que foi necessário. E eu chego hoje, nesta etapa final, com a mesma energia que tive ao longo dos últimos meses. O problema é como dispender essa energia nos próximos dias e semanas
Ao lado desses 43,6 milhões de votos, nós recebemos, também, votos que elegeram dez governadores que nos apoiaram. Dos quais, um está presente. Um companheiro de muitas jornadas, Geraldo Alckmin. Ele se empenhou na minha eleição, mais do que se empenhou na dele
A maior vitória que nós conquistamos nessa campanha não foi mérito meu, mas foi de vocês [imprensa]. Nesses meses duríssimos, onde enfrentamos forças terríveis, vocês alcançaram uma vitória estratégica no Brasil. Cavaram uma grande trincheira, construíram uma fortaleza, consolidaram um campo político de defesa da liberdade e da democracia do Brasil
Vi centenas e milhares de jovens que me lembraram o jovem que eu fui um dia, sonhando e lutando por um país melhor, como eu faço até hoje. Onde os políticos fossem servidores do povo e não se servissem do nosso povo
Para os que nos imaginam derrotados, eu quero dizer: nós apenas estamos começando uma luta de verdade. Nós vamos dar a nossa contribuição ao país, em defesa da pátria, da liberdade, da democracia, do direito que todos têm de falar e de serem ouvidos. Vamos dar a nossa contribuição como partidos, como parlamentares, como governadores. Essa será a nossa luta
Por isso a minha mensagem de despedida nesse momento não é um adeus, mas um até logo. A luta continua. Viva o Brasil."

Se observarmos a fala do candidato José Serra em destaque, podemos perceber o estado de "guerra" que ele juntamente com o partido o PSDB declara aos "adversários"; é claro que se considerarmos o teor desse discurso, em sua totalidade, teremos outros caminhos para análise em questão: um desabafo seria o mais provável.
Não podemos ficar presos apenas no dito - às questões linguísticas: adversários, defesa de uma pátria, da liberdade. Todas essas expressões lembram estado de guerra; como se a candidata vencedora fosse inimiga. Leva também a entender que Dilma Rousself, a nova presidenta do Brasil, juntamente com seu partido político PT de José Dirceu e companhia sejam inimigos da nação.
Outro momento importante para análise é o fato de Serra jogar a responsabilidade de sua campanha, segundo ele com sucesso, à imprensa - ou seja sabemos que os veículos de comunicação têm um papel decisivo na sociedade, pode influenciar um seguimento esportivo e até político. Destacar a imprensa nesse momento é de fundamental importância até para restabelecer o papel do partido político, no caso, o PSDB; e por conseguinte o papel que serra terá daqui para frente.
O texto continua ...

sábado, 30 de outubro de 2010

Semana da Consciência Negra

Semana da Consciência Negra

Uma bondosa personalidade real uma certa vez, pressionada ou não teve uma brilhante ideia – assinar um documento em que todos os escravos seriam livres, complementando outra lei anterior a do ventre livre. O certo é que muitos daqueles infelizes libertos contra a vontade dos patrões: senhores de Engenhos, Barões do Café dentre outros médios e grandes latifundiários foram obrigados a libertar todos seus escravos.

Alguns grupos formados tentaram ainda burlar a lei mantendo escravos em suas propriedades – outros se vendo pressionado pelo dito da Princesa Isabel mantinham seus escravos em condições sub humanas pagando pelos serviços um valor bem inferior, muitas vezes mal dava para sua sobrevivência.

As décadas que se seguiram foram convivendo na sociedade: brancos, negros, índios, mulatos, imigrantes dentre outros. Os imigrantes italianos foram trazidos ao Brasil a fim de substituir os escravos na agricultura.

Apesar de abolida a escravatura brasileira, ainda era possível ver indícios de torturas e prisões de negros até meados do século XlX. Um desses episódios é a conhecida Revolta da Chibata – a Revolta d Chibata foi um movimnto de Militare da Marinha do Brasil, planejado por cerca de dois anos e que culminou com um motim que se desenrolou de 22 a 27 de novembro de 1910 na baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, à época a capital do país, sob a liderança do marinheiro João Cândido Felizberto.

Na ocasião, mais de dois mil marinheiros rebelaram-se contra a aplicação de castigos físicos a eles impostos como punição, ameaçando bombardear a cidade. Durante os seis dias do motim seis oficiais foram mortos, entre eles o comandante do Encouraçado Minas Gerais, João Batista das Neves.

É um breve relato de marinheiros que viviam sendo castigados por errarem, naquela ocasião os marinheiros eram em sua maioria negros. Em condições precárias viviam de restos de lixo em porões de navios e até convivendo com ratos e baratas. Muitos morriam em serviço.



sexta-feira, 29 de outubro de 2010

MOVIMENTO NEGRO NA DÉCADA DE 1930

Na década de 1930, o movimento negro deu um salto qualitativo, com a fundação, em 1931, em São Paulo, da Frente Negra Brasileira (FNB), considerada a sucessora do Centro Cívico Palmares, de 1926. Estas foram as primeiras organizações negras com reivindicações políticas mais deliberadas. Na primeira metade do século XX, a FNB foi a mais importante entidade negra do país. Com "delegações" – espécie de filiais – e grupos homônimos em diversos estados (Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Bahia),arregimentou milhares de "pessoas de cor", conseguindo converter o Movimento Negro Brasileiro em movimento de massa. Pelas estimativas de um de seus dirigentes, a FNB chegou a superar os 20 mil associados. A entidade desenvolveu um considerável nível de organização, mantendo escola, grupo musical e teatral, time de futebol, departamento jurídico, além de oferecer serviço médico e odontológico, cursos de formação política, de artes e ofícios, assim como publicar um jornal, o A Voz da Raça.

Naquela época, as mulheres negras não tinham apenas importância simbólica no movimento negro. Segundo depoimento do antigo ativista Francisco Lucrécio, elas "eram mais assíduas na luta em favor do negro, de forma que na Frente [Negra] a maior parte eram mulheres. Era um contingente muito grande, eram elas que faziam todo movimento". Independentemente do exagero de Lucrécio, cumpre assinalar que as mulheres assumiam diversas funções na FNB. A Cruzada Feminina, por exemplo, mobilizava as negras para realizar trabalhos assistencialistas. Já uma outra comissão feminina, as Rosas Negras, organizava bailes e festivais artísticos.

Em 1936, a FNB transformou-se em partido político e pretendia participar das próximas eleições, a fim de capitalizar o voto da "população de cor". Influenciada pela conjuntura internacional de ascensão do nazifascismo, notabilizou-se por defender um programa político e ideológico autoritário e ultranacionalista. Sua principal liderança, Arlindo Veiga dos Santos, elogiava publicamente o governo de Benedito Mussolini, na Itália, e Adolfo Hitler, na Alemanha. O subtítulo do jornal A Voz da Raça também era sintomático: "Deus, Pátria, Raça e Família", diferenciando-se do principal lema integralista (movimento de extrema direita brasileiro) apenas no termo "Raça". A FNB mantinha, inclusive, uma milícia, estruturada nos moldes dos boinas verdes do fascismo italiano. A entidade chegou a ser recebida em audiência pelo Presidente da República da época, Getúlio Vargas, tendo algumas de suas reivindicações atendidas, como o fim da proibição de ingresso de negros na guarda civil em São Paulo.Este episódio indica o poder de barganha que o movimento negro organizado dispunha no cenário político institucionalizado brasileiro. Com a instauração da ditadura do "Estado Novo", em 1937, a Frente Negra Brasileira, assim como todas as demais organizações políticas, foi extinta. O movimento negro, no bojo dos demais movimentos sociais, foi então esvaziado. Nessa fase, a luta pela afirmação racial passava pelo culto à Mãe-Preta e uma das principais palavras de ordem era a defesa da Segunda Abolição.

Vale salientar que, além da Frente Negra Brasileira, outras entidades floresceram com o propósito de promover a integração do negro à sociedade mais abrangente, dentre as quais destacam-se o Clube Negro de Cultura Social (1932) e a Frente Negra Socialista (1932), em São Paulo; a Sociedade Flor do Abacate, no Rio de Janeiro, a Legião Negra (1934), em Uberlândia/MG, e a Sociedade Henrique Dias (1937), em Salvador.

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Para Pelé, não existe racismo no futebol




Uma das principais preocupações da Fifa nos últimos anos, o racismo não existe no futebol, segundo Pelé. O ex-jogador disse que os casos são raros, e não há motivo para grande comoção.


"Isso é uma besteira que deveria ser esquecida. Temos milhões de jogos por ano, todos os dias da semana, e vemos um caso ou outro. Não há racismo no futebol, é um esporte que gera muita união", declarou.

Pelé lembrou que sofreu preconceito ao longo da carreira, mas não deu importância a isso. Para ele, o assunto só ganhou maiores proporções nos últimos tempos por conta da globalização.

"É uma questão pessoal. Quando atuei na Argentina, me chamaram de negro sujo, macaco do Brasil, e não foi feito nenhum alarde", acrescentou.

Não foram poucos os casos recentes de racismo no futebol. Na Espanha, o atacante camaronês Samuel Eto'o teve de ser convencido pelos companheiros a continuar em campo após insultos da torcida do Zaragoza. No Brasil, Antônio Carlos recebeu 120 dias de punição por atitude preconceituosa contra Jeovânio, do Grêmio.

2014

Pelé não falou apenas de racismo na inauguração do Instituto Pelé Pequeno Príncipe, em Curitiba. Questionado sobre a intenção do Brasil em sediar a Copa do Mundo de 2014, ele afirmou que o país não está preparado.

"Curitiba é uma das poucas cidades que pode ser sede de um Mundial. O Atlético-PR é o único que tem o estádio dentro das normas. O Mineirão, se receber uma boa ajeitada, também pode ser usado", opinou.

De qualquer maneira, o ex-jogador não quer dinheiro público envolvido na organização da Copa. "Não devemos sacrificar o povo para colocar a Copa aqui. Os investimentos devem ser feitos por empresas privadas, como aconteceu no Mundial dos Estados Unidos."





"Dia da Consciência Negra" retrata disputa pela memória histórica

Preservar a memória é uma das formas de construir a história. É pela disputa dessa memória, dessa história, que nos últimos 32 anos se comemora no dia 20 de novembro, o "Dia Nacional da Consciência Negra". Nessa data, em 1695, foi assassinado Zumbi, um dos últimos líderes do Quilombo dos Palmares, que se transformou em um grande ícone da resistência negra ao escravismo e da luta pela liberdade. Para o historiador Flávio Gomes, do Departamento de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a escolha do 20 de novembro foi muito mais do que uma simples oposição ao 13 de maio: "os movimentos sociais escolheram essa data para mostrar o quanto o país está marcado por diferenças e discriminações raciais. Foi também uma luta pela visibilidade do problema. Isso não é pouca coisa, pois o tema do racismo sempre foi negado, dentro e fora do Brasil. Como se não existisse".

Construindo o "Dia da Consciência Negra"

O 20 de novembro trata da data do assassinato de Zumbi, em 1665, o mais importante líder dos quilombos de Palmares, que representou a maior e mais importante comunidade de escravos fugidos nas Américas, com uma população estimada de mais 30 mil. Em várias sociedades escravistas nas Américas existiram fugas de escravos e formação de comunidades como os quilombos. Na Venezuela, foram chamados de cumbes, na Colômbia de palanques e de marrons nos EUA e Caribe. Palmares durou cerca de 140 anos: as primeiras evidências de Palmares são de 1585 e há informações de escravos fugidos na Serra da Barriga até 1740, ou seja bem depois do assassinato de Zumbi. Embora tenham existido tentativas de tratados de paz os acordos fracassaram e prevaleceu o furor destruidor do poder colonial contra Palmares.

Há 32 anos, o poeta gaúcho Oliveira Silveira sugeria ao seu grupo que o 20 de novembro fosse comemorado como o "Dia Nacional da Consciência Negra", pois era mais significativo para a comunidade negra brasileira do que o 13 de maio. "Treze de maio traição, liberdade sem asas e fome sem pão", assim definia Silveira o "Dia da Abolição da Escravatura" em um de seus poemas. Em 1971 o 20 de novembro foi celebrado pela primeira vez. A idéia se espalhou por outros movimentos sociais de luta contra a discriminação racial e, no final dos anos 1970, já aparecia como proposta nacional do Movimento Negro Unificado.

A diversidade de formas de celebração do 20 de novembro permite ter uma dimensão de como essa data tem propiciado congregar os mais diferentes grupos sociais. "Os adeptos das diferentes religiões manifestam-se segundo a leitura de sua cultura, para dali tirar elementos de rejeição à situação em que se encontra grande parte da população afro-descendente. Os acadêmicos e os militantes celebram através dos instrumentos clássicos de divulgação de idéias: simpósios, palestras, congressos e encontros; ou ainda a partir de feiras de artesanatos, livros, ou outras modalidades de expressão cultural. Grande parte da população envolvida celebra com sambão, churrasco e muita cerveja", conta o historiador Andrelino Campos, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.









sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Semana da Consciência Negra


Então, tá. A gente vai ficar esperando. Ou melhor: a gente não vai esperar, porque a sociedade brasileira resolveu investir nas cotas; para horror da turma do Leblon e Higienópolis.

A ideia dos que defendem cotas é a seguinte: educação de qualidade é pressuposto, serve para negros e brancos. Serve no longo prazo. E serviria mais ainda se essa fosse uma sociedade menos desigual. As cotas, por outro lado, dão um empurrãozinho a mais para aqueles que saem em desvantagem nessa corrida: os negros e seus descendentes, que foram escravizados durante mais de 3 séculos. Trata-se de fazer Justiça: trata-se de oferecer ferramentas diferentes para quem parte de condições diferentes.

A turma anticotas aceita, no máximo, no máximo, "umas cotas para pobres".

Até entendo: assim, não se mexe na velha ferida do racismo, nas memórias dos navios negreiros. Assim, não se atiçam velhas culpas, nem velhas perversidades. Assim, brancos e negros seguem irmanados pela "lei", que trata a todos com igualdade nessa doce terra. Certo?